- Que quer dizer “cativar”?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços...”-...Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa... (O Pequeno Príncipe, Saint-Exupéry).
Um adolescente incrédulo tendo ido ao tratamento psicológico por recomendação da família, pergunta, espantado e num fôlego só:- Mas só falando eu poderia melhorar? Só conversando tu vai me ajudar?!O tratamento Psicológico não se resume ao “ser ajudado” ou ao “melhorar”, mesmo que isto venha a acontecer. O “falar” também não pode ser resumido: não se trata de “qualquer falar”, “falar por falar” ou “falar qualquer coisa”.No espaço psicológico ocorre uma instrumentalização humana de dialogar e, principalmente, “escutar”. Escutar diretamente aquilo que indiretamente o outro diz, fala e, portanto PENSA.Há um “falar” carregado sobre as coisas que fazem sentido na vida da pessoa que fala/escuta. Coisas que fazem ou não fazem sentido e que provocam a situação humana de serem transmutadas (transformadas) pela busca dos próprios sentidos do viver.Aquele que escuta não pode, de forma passiva, somente ouvir. Precisa fornecer sua presença inteira e suportar o que é articulado.O que é escutado tem o material do que pode, precisa e deve ser transformado pelos dois seres envolvidos.Numa situação de respeito, sigilo ético e sensibilidade. Sensibilidade que não desespera na dor, não se apavora facilmente e não desespera a dor do outro, mas sustenta o lugar e o olhar da fala do desejo.Viver e desejar expõe os humanos aos desafios e dores que a vida impõe.Escutar a forma que o outro conta/diz sua dor vivida esclarece, também, a quem fala: escutar sua própria voz.Esclarecimento não só da dor que sente, mas dando sentido a dor falada, “descristalização” dos conceitos prontos.Diferente de um amigo que se emociona – oferece o precioso “ombro amigo” e o apoio nestas emoções – o psicólogo oferece outro tipo de amor/amizade, que faz falar. No amigo há o prazer de dividir o pensar; no terapeuta o ato/amor precisa somar dois “pensar”.O Pensar próprio prevalece no lugar do conselho, o conselho prejudica o pensar por si: escutar a voz que fala/pensa e vive. Um bom amigo fará da amizade/amor este pensar juntos, o bom psicólogo fará do espaço um lugar de falar, pensar e desejar por si mesmo (não se paga ao amigo, ao menos com dinheiro).A experiência não termina ao fim do tratamento psicológico. Nasce de um bom tratamento psico, um verdadeiro e bom amigo, para si e para os outros, pois o paciente/cliente torna-se seu próprio melhor amigo. Criando a possibilidade de um mundo melhor e mais suportável em suas realidades: chocantes, radicais, individuais, paralisantes, de ansiedade, medo (fobia), dor (depressão), angústia, etc.Não há como ser um simples escutar, nem um simples falar, mas há experiência profunda de criar coragem e enfrentar a si mesmo e os sentidos de viver. Sentidos cultivados e contaminados por nossos próprios vírus influentes.O adolescente lá no início tinha razão em questionar (sua crítica está viva): SÓ FALAR não pode melhorar ou ajudar, é necessário alguém que escute de forma integral; situação que nos faça pensar por nós mesmos e sustente um lugar para continuarmos falando, sessão após sessão, aquilo que pensamos que nos incomode.É necessário este alguém que nos faça olhar/escutar nosso acomodamento, sem interromper nosso NASCIMENTO nem a dor que impele nosso CRESCIMENTO. Desassossego suficiente para continuarmos desenvolvendo nosso projeto de SERmos humanos, construindo mudanças em nós para a formação de um mundo melhor, ao menos nas nossas convivências e relações.Aquilo que cultivamos e cativamos é nossa responsabilidade ao invés de nossa culpa, é o que iremos preciosamente colher.
Contatos:
Ângela – fone: (51) 9321.1866
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