domingo, maio 09, 2010

A Formação da Identidade Brasileira e as Convenções Sociais: Um Beco Sem Saída?


A Formação da Identidade Brasileira e as Convenções Sociais:
Um Beco Sem Saída?  (2008)

Adriana Kessler, orientadora, é Psicóloga, Mestre em Psicologia Social e da Personalidade (PUCRS), Docente do Curso de Psicologia na Universidade Luterana do Brasil 
Ângela Barcelos da Silva é graduanda em Psicologia anjapsi@hotmail.com


Introdução
As (in)definições de conceitos relativos ao tema identidade estão relacionadas às teorias do campo dos Estudos Culturais onde é concebida “a cultura como espaço privilegiado de transformação do ser social” (Williams, citado por Escosteguy, 2003, p.57).
Esta pesquisa tem a orientação construcionista, bibliográfica, é exploratória, explicativa, qualitativa e refere que o objeto das Ciências Sociais é histórico. Onde, aceitando os critérios da historicidade, aproximado e construído, o pesquisador – cavador de respostas – na busca do progresso precisa estar associado muito mais às violações do que à obediência (Minayo, 2004; Santos, 2002).
As propostas dos Estudos Culturais são relacionadas com as idéias de autores Hall (2001) e Bauman (2005) que situam o tema na pós-modernidade e no pós-estruturalismo, utilizando, respectivamente, os termos “modernidade tardia” e “modernidade líquida”. Estes e alguns outros autores dos Estudos Culturais fazem levantamentos que constituem a difícil definição da identidade brasileira ou uma pretensa formação dela, coadunam as urgentes necessidades de novos paradigmas para tal referencial que requerem análises complexas, de cunho emancipatório e urgentes e onde é necessária a revisão nas crises dos paradigmas conceituais do conhecimento.
A construção de uma identidade – nacional – que não se constitui um processo simples porque é difícil conceituar termo tão ambíguo, ou até mesmo poético, romântico, Hall irá tratá-lo como “(. . .) muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido para ser definitivamente posto à prova” (2001, p.8).
Os sujeitos assumem diferentes e conflitantes identidades, o que só torna o processo como algo diferente de inato e existente na consciência desde o momento do nascimento até a hora da morte. A identidade que não se desenvolve naturalmente é formada em relação aos outros, ao longo do tempo e através de processos inconscientes. Gritando que há “algo 'imaginário' ou fantasiado sobre sua unidade” (Hall, 2001, p. 37-38), fazendo com que ela permaneça como um processo que está sempre sendo formado e reformulado.
No que se refere a um país continental composto de muitos diferentes sujeitos, demasiadas desigualdades sociais, econômicas e culturais a pretensão de identidade nacional e a análise de sua formação requerem muito mais a possibilidade de alguma licença poética aliada ao rigor na complexidade de tal análise, do que o rigor científico em “recapturar esse prazer fantasiado da plenitude” (Hall, 2001, p.39).
O problema que norteia este artigo é se pode se falar de uma identidade nacional brasileira. A questão fundamental que direciona este estudo vincula-se ao referencial de identidade utilizado numa ampliação e não num fechamento. A isto segue a pergunta: qual o referencial de identidade utilizado?
No livro “Identidade”, o entrevistador diz sobre a sua impressão ao dialogar com Bauman, como foi ficando consciente de ter adentrado um continente muito mais amplo que aquilo por ele esperado: o vasto território real incabível nos mapas. “Continente cujos mapas eram quase inúteis em se tratando de encontrar direções” (Bauman, 2005, p.7). Igualmente, nos deparamos com a impossibilidade de um fechamento tranqüilo pela imprecisão e pela complexidade a que a temática nos submete. Eles, entrevistador e entrevistado, falam do lugar de impossível definição de identidade no mundo de rupturas pós-moderno e líquido, cuja tarefa torna-se impraticável pelas suas infinitas saídas.
Durante o transcorrer do processo de pesquisa bibliográfica foi necessário aceitar que às referências circunscritas, articulavam-se paradoxos ao pensamento lógico formal em suas características determinantes e restritivas.
O referencial de identidade parte do esfacelamento do próprio referencial – por alguma via alternativa – que abre maiores possibilidades de diálogo dentro do tema. O convite de Bauman (2005, p.12) é o de exercitarmos com um pouco de sabedoria em estratégias de “adaptação à modernidade líquida” que têm ações nas sociedades capitalistas tardias. Lança-nos, sem descanso e ao infinito profundo desta questão social, atual e crucial. O autor vai referir que “a identidade é uma convenção socialmente necessária” muitas vezes usada de forma desinteressada, causando maiores desinteresses, moldando e dando substância à biografias empobrecidas e comuns.
Submetendo homens e mulheres hipermodernos à alienação e remetendo-nos a pensamentos reducionistas, atomizando-nos em seres individualizados. Inserindo distancia aos sujeitos naquilo que poderia começar a responder à problemática, subjetiva e filosófica pergunta: quem sou eu?

Um comentário:

  1. Uau!!!

    Ângel e Adriana, muito obrigada pelo artigo. Simplesmente maravilhoso em suas ponderações e articulações.

    Como é difícil e conturbado o CONCEITO de IDENTIDADE, seja no âmbito individual, seja no social, o qual se torna ainda mais penoso e árduo tal embate.

    Sobretudo, em uma nação como a nossa, que se caracteriza, em demasia, por seu explícito caráter de MISCIGENAÇÃO. SOMOS MUITOS E VÁRIOS E DIFERENTES NO MESMO ESPAÇO QUE, POR SUA VEZ, TAMBÉM É MUITO AMPLO E REGIONALIZADO, O QUE DIFICULTA AINDA MAIS A FORMAÇÃO DESSA DITA 'IDENTIDADE NACIONAL' que possa contemplar todas as culturas regionalizadas em nosso extenso e complexo país.

    Adorei o artigo!!! Não parem de nos acrescentar com informações tão pertinentes e elucidativas.

    SUPER BEIJO ÀS DUAS!!!

    E a Ângel, nem preciso falar, né? Mora no meu coração. BJÃO!!!! E muita gente ainda fala que 'amizade virtual' não existe; é fuga da realidade e mais um tanto de baboseira... Penso que as pessoas se esquecem que para gostar de alguém, basta simplesmente deixar o coração aberto e pronto. Não é preciso contato físico, não é preciso olho no olho; o ser humano se comunica muito mais por ENERGIA do que por qualquer outro meio. Acredito sinceramente nisso. Ihhh, acabei falando demais, como sempre... Mais beijo!!!

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